Nome: Dedê Ranieri
Lugar: São Bernardo, São Paulo, Brazil

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  • Gente (será que ainda tem gente que entra aqui?),e...
  • Ontem foi a divulgação da oficina literária Escrev...
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  • Brenda Walsh
  • Menina com uma Flor
  • Será que funciona?
  • Um blog como outro qualquer
    mais diferente





  • quarta-feira, outubro 06, 2010

    No comments. É isso que dá ter amizade com gente desse tipo: pinos redondos em buraco quadrado. Dá resultados como esse!

    1o. Livro com coletânea de textos da MundoMundano. Organização da desparafusada hiper e pró-ativa Camila Briganti. Publicação pela Prólogo Selo Editorial.

    Participo com três contos:

    Peggy Sue e o soco no nariz do tubarão
    O irmão de Laurinha
    Isabel entre las piernas


    Festona de lançamento em 21 de outubro, a partir das 20h, no Ringue Lounge.
    MundoMundano e os quatro cantos do mundo
    Mais detalhes abajo!

    posted by Dedê Ranieri @ 7:23 PM |




    Texto produzido no módulo infanto-juvenil da pós-graduação mais legal do mundo: Prática de Criação Literária, na Editora Terracota (certificado pela Universidade Cruzeiro do Sul). Os módulos são individuais, portanto, corra, dá pra participar ainda e ser meu amiguinho de classe!

    Módulo IJ ministrado por um
    Maluf do bem: o Marcelo.


    Amarelo crepúsculo

    Eles chegaram na hora do Jornal Nacional, num jipe caindo aos pedaços.

    Meu avô que vivia com a cara colada na janela gritou “Os russos estão chegando! Viva la revolución!”. Mas ninguém deu bola.

    Primeiro porque era hora do Jornal Nacional.

    Segundo porque diziam lá em casa que meu avô sofria de uma doença que deixava a mente toda embaralhada. Então toda hora ele dizia alguma coisa que ninguém dava bola.

    Mas eu achava meu avô o avô mais engraçado do mundo. Por isso quando ele gritou aquelas coisas de russo e revolución eu corri sentar no colo dele e colei a cara na janela também.

    Foi então que vi dois crocodilos já entrando no nosso quintal. Um mais velho e outro mais moço.

    O velho usava uma boina verde meio de lado e tinha umas olheiras enormes - meu tio Zuca que faz faculdade de moda na Santa Marcelina diria “lindas bolsas em croco, total anos 40!”.
    O mais novo parecia bem animado e vestia uma camiseta branca com uma estampa assim , que depois meu avô traduziu pra mim: I love New York.

    Na hora que bateram na porta o vô Odilo já estava de pé – Ah, eu falei que meu avô se chamava Odilo? Parecia até que esperava visita.

    O crocodilo velho se apresentou com uma voz rouca, tipo voz de crocodilo que já fumou muito nessa vida: “Ernesto, mucho gusto”. Acho que foi só aí que meus pais desgrudaram o olho da tevê.

    O tal Ernestomuchogusto se desculpou pelo incômodo àquela hora. Minha mãe correu ajeitar a sala e meu pai que ainda não tinha se manifestado repreendeu meu avô, dizendo aonde já se viu deixar visita parada na porta.

    O crocodilo novo já tinha entrado sem cerimônia e repetia sem parar “un poquito de biscoitos, un poquito de biscoitos”.

    Minha mãe já ia buscando a lata quando meu pai decidiu “Fiquem para o jantar!”. E danou a falar sobre os malefícios do biscoito industrializado: gordura trans, corante amarelo crepúsculo, vermelho 40, carmin de cochonilha.

    Eu fiquei tão admirada que meu pai soubesse esses nomes bonitos de corante, que deu até vontade de comer os biscoitos maléficos.

    A essa altura meu avô parecia um agente da CIA de tanto que interrogava o crocodilo Ernesto. Queria saber do jipe modelo russo se era ano 91 quando parou de fabricar se vinham de longe se moravam em sobrado ou pântano... Até sobre a boina o vô Odilo perguntou.

    Instalado na poltrona da janela, ele contou que era um crocodilo-cubano exilado. Vivia pelo mundo em companhia do neto, “Siempre por la misión”. Mas parece que o croco-menino não tinha os mesmos ideais que o croco-vô. Sempre muito influenciado pelas “mídias e consumo”, dizia o tal Ernesto com cara de quem estava mesmo cansado. Aquela era sua última esperança.

    Foi isso que eu entendi quando ele encarou o vô Odilo. Esperança.

    “Un poquito de biscoitos, hãã?”. Deu um tapinha tipo camarada nas costas do meu avô. Vô Odilo ficou pensativo. “Un poquito de biscoitos...” repetia o crocodilo.

    E nada do vô Odilo.

    O tal do Ernesto foi ficando verde.

    O neto gritou que tinham errado de casa.

    Os dois pareciam desesperados.

    Minha mãe ofereceu água, mas saíram sem aceitar nem despedir, num atropelo só.

    Mais estranho que isso era o meu avô de tão quieto. Subiu as escadas e voltou com uma caixa.

    Foi tirando tudo. Parabólica. Charuto. Livro. Bússola. Granada. Barraca. Cantil. iPod. Tinha até um cd da Marina de La Riva.

    posted by Dedê Ranieri @ 5:35 PM |


    sábado, junho 12, 2010

    Yellow

    Meu primeiro encontro com Maurice aconteceu num dia de chuva forte. Não gosto de encontros em dia de chuva. Mas gosto de Maurice.

    Nunca consulto a previsão do tempo. Portanto descobri a chuva no caminho. Mas vamos supor que eu consultasse. E a previsão fosse cem por cento previsível: alagamento em São Paulo. Eu iria encontrar Maurice. Porque como eu disse lá atrás, gosto de dele. E não dou muita bola pra previsões.

    Agora me lembro bem. Era pra ter sido na segunda. Noite quente de amendoim e cerveja. Umidade do ar zero. Desses dias que o cabelo não arrepia e a pele fica corada.

    Em dia de chuva me sinto opaca e o cabelo perde um pouco a graça. Gosto de encontros em dia de sol. Ou em noite quente. A lua pode ser qualquer uma. Desde que não fique escondida atrás do telhado.

    Num texto ou num filme prefiro os encontros em dia de chuva. E se as pessoas usarem casacos então...

    Tenho por primeiro encontro aquele mal intencionado. Algumas amigas nominam crime premeditado. Meu primeiro encontro com Maurice foi numa noite de chuva forte, premeditado.

    Maurice perguntou se eu tinha uma calcinha amarela. Tive vontade de contar aos amigos e primos dele. No brunch. Maurice preparou waffles com doce de leite uruguaio e minha mãe mandou um bolo com cobertura de chocolate.

    Maurice tem uma conversa boa que estende na madrugada. E adora amarelo.

    posted by Dedê Ranieri @ 1:13 AM |


    quarta-feira, maio 26, 2010

    My Baby Just Cares For Me

    Liz Taylor is not his style
    And even Lana Turner's smile
    Is somethin' he can't see
    My baby don't care who knows
    My baby just cares for me

    Baby, my baby don't care for shows
    And he don't even care for clothes
    He cares for me
    My baby don't care
    For cars and races
    My baby don't care for
    He don't care for high-tone places
    ...

    posted by Dedê Ranieri @ 3:02 AM |


    sábado, maio 15, 2010

    UMA VEZ DO LADO DE DENTRO DO CÉREBRO, DUVIDE DAS INSTRUÇÕES DO GUIA
    OU,
    TUDO SOBRE MARCELO CATELAN

    Nascido nos derradeiros dias da década de 60, atualmente é livreiro, leitor crítico e escritor. Uma vez ou outra também é ator e pesquisador musical de teatro. De vez em quando escreve em seu blog “O nome do Livro”. Teve uma passagem insípida pelo curso de educação artística e uma passagem traumática pela faculdade de musicoterapia. Esporadicamente se dedica a juntar imagens coletadas a esmo, recortadas de vários lugares, passar cola (imaginária ou não), remontar tudo em uma superfície qualquer e chamar isso de arte. Adora juntar papel, de qualquer tipo, em forma de livros, periódicos, em branco, pautados, presos por espirais, povoados por letras e imagens, etc. É um leitor feroz, e tem algumas pequenas idiossincrasias, como por exemplo: que livros são feitos de outros livros, que o livro é o melhor amigo do homem, que o escritor é aquela pessoa que não encontrou o livro que queria, acabou descobrindo que ele ainda não foi escrito e resolveu então ele mesmo escrever, que livros são vivos e merecem ser bem tratados, pois, caso contrário, eles se vingam, que tudo no mundo foi feito para acabar nos livros... entre outras tantas. Filho de uma professora aposentada de pré-escola, acabou estendendo o período do “parquinho” por toda sua vida, o que foi positivo, afinal de contas, como dizia Wilde: “tudo de importante que eu tinha para aprender eu aprendi até os seis anos de idade.” É assombrado por fantasmas de escritores suicidas, jura que tem uma criatura misteriosa que vive escondida por detrás dos livros na sua estante de poesia e dorme na sua biblioteca.

    posted by Dedê Ranieri @ 7:09 AM |




    Gente (será que ainda tem gente que entra aqui?),

    eu tô pirando na organização da oficina literária Escrevendo com o Lado de Dentro do Cérebro. Pirando no sentido bom da coisa. É que, tipo... algum maluco deixou que eu ajudasse na formatação do programa dos encontros de criatividade, e a cada minuto surge uma piração diferente (acordo de madrugada, mando email às quatro, cinco da manhã, uma loucura). Ao contrário do meu trabalho oficial (sou advogada ainda, remember? e agora sanitarista), nesse eu posso colocar minhas maluquices em prática, mesmo. A última foi a pílula. Alguém aí lembra da pílula que o doutor Caramujo deu pra Emília e a boneca desembestou a falar? Pois então... Já estão separadas as pílulas coloridas (substância 100% lícita) que os participantes vão tomar no primeiro encontro da oficina. Pra desembestar a escrever. Nem o Marcelo Catelan (o Criativo professor e guia espiritual da Escrevendo) tá me aguentando. Escrevo uns 30 emails pra ele por dia, além das 10 ligações sagradas. Outro dia ele fingiu que era da Funerária Um Irmão Porque o Outro Morreu e eu desliguei. Cruzes!

    posted by Dedê Ranieri @ 4:20 AM |


    terça-feira, maio 11, 2010

    Ontem foi a divulgação da oficina literária Escrevendo com o lado de dentro do Cérebro na Nobel, que delícia! Gente bacana, alto astral, alguns que eu não via faz tempo. E o bom e velho Rio Grande pra acompanhar. Não resisti, virei oficineira repetente de Marcelo Catelan. Lá vou eu de nuevo!

    H. Pafundi e Manuel Filho também foram prestigiar. Aliás, tem novo lançamento do Manuel na Saraiva do Shopping Paulista, sabadão (15) às 17h: O Dono da Bola - Política para crianças e jovens.


    posted by Dedê Ranieri @ 11:45 PM |


    domingo, maio 09, 2010

    Livraria Nobel de São Caetano reúne escritores

    O Núcleo de Jovens Escritores de Todas as Idades, em parceria com a Livraria Nobel C'zar de São Caetano, promove a divertida oficina literária Escrevendo com o lado de dentro do Cérebro.

    O objetivo do curso é estimular o fluxo de idéias criativas dos participantes, desde aqueles que querem redigir um email corporativo com mais facilidade até os interessados em reunir suas memórias em um livro.

    Cada aula terá uma dinâmica inovadora, que vai desde a “imersão musical” em canções pré-selecionadas pelos alunos, até uma rodada de escrita acompanhada de drinques clássicos que inspiraram grandes escritores.

    Os encontros serão realizados no charmoso café no piso superior da livraria, com turmas às quartas e aos sábados, a partir de 12 de maio, mediante inscrição. Também contará com a presença de escritores da região como Hildebrando Pafundi e Manuel Filho (Prêmio Jabuti 2008), para falar sobre o processo de criação de seus livros.

    O Núcleo de Jovens Escritores se reunirá com os alunos e interessados na próxima segunda-feira (10 de maio), a partir das 19h30, para divulgar a programação completa do curso, na própria livraria Nobel.

    Mais informações:
    Livraria Nobel C'zar
    Rua Marechal Deodoro, 126 (Esquina com a Rua Augusto Toledo)
    São Caetano do Sul - Telefone: (11) 4221-1506
    Email: nucleojovensescritores@hotmail.com
    Início: 12 de maio (quarta-feira) e 15 de maio (sábado)
    Vagas limitadas

    posted by Dedê Ranieri @ 3:08 AM |


    terça-feira, abril 27, 2010

    "À meia-noite já voavam alto por uma praia de pedras na Irlanda. Ela descobriu nesse dia que tinha praia na Irlanda. Seguia em silêncio, olhos fechados. Pensava em Iemanjá e no efeito de pular as ondas uma outra hora. Ouviu alguém cantar bem longe uma velha canção francesa que a avó de vez em quando arriscava. Era noite de réveillon."
    ...

    posted by Dedê Ranieri @ 2:32 AM |


    quinta-feira, abril 22, 2010


    Antes eu tentava explicar, mas não conseguia. Então eu dizia simplesmente que gostava de umas historinhas sem pé nem cabeça. Filme, livro, o que viesse. Alguns acusavam, era tipo. Não é possível alguém gostar desse negócio. Meus amigos sempre foram compreensivos, porém cautelosos: se a Dedê sugeriu, melhor checar antes, ela gosta de umas coisas esquisitas... Só essa semana eu descobri o nome daquilo que exerce tamanho fascínio sobre minha pessoa: o universo onírico. No dicionário "onírico" consta como adjetivo relacionado a sonhos. Esse universo refletido em qualquer forma de arte, dá aquela sensação que mistura sonho e realidade. Não se sabe o que é delírio, alucinação, o que é real. Quando a gente é criança esse é o nosso mundo. Melhor dos mundos. Daí a gente vai crescendo e sapato é só sapato mesmo, travesseiro é aquilo em que a gente apoia a cabeça pra dormir (ou ter insônia), e ai! daquele que ousar inventar ou subverter a palavra. Se não tiver licença poética ou for um Rubem Braga consagrado, é taxado de bobo. Meu vício começou com uma série do David Lynch, que passou (e não terminou) na Globo quando eu tinha uns treze anos: Twin Peaks. A trama girava em torno do assassinato de uma garota tipo team leader, na pacata e fictícia Twin Peaks. Poderia ser a trama de qualquer filme ordinário, mas aquele era original porque... tinham as cortinas de veludo vermelho, o anão que dançava de um jeito bizarro, uma trilha sonora meio new age, tudo tão pertubador e fora do lugar. Pra quem odeia narrativas sem linearidade ou lógica, esse universo de sonhos é um pesadelo. Pra quem se sente atraído e não deixou fechar todos os chacras, recomendo uma peça de teatro com toques de excelência e requinte lynchianos:

    cine Belvedere
    no Casarão do Belvedere:
    Rua Pedroso, 267, Bela Vista,
    São Paulo - (11) 3266-5272
    Sábado às 21 e Domingo às 19h
    R$ 30
    Em cartaz até 27 de junho
    Capacidade: 18 pessoas

    posted by Dedê Ranieri @ 6:06 AM |


    domingo, abril 18, 2010

    Quando a Gabriella morava numa casa amarela
    eu até escrevi um poema pra ela.
    Mas depois que pintaram a casa de azul,
    eu fiquei meio sem assunto.

    posted by Dedê Ranieri @ 11:40 PM |


    quarta-feira, abril 14, 2010

    Dark was the night, cold was the ground

    Eu tentava andar depressa mas meus pés afundavam na neve. O vento soprava outra coisa que não era vento. Eram as palavras dela.
    - Não volte ao velho pub. Esqueça o Creedence. E quando estiver perambulando sem sono, peça uma Stella Artois, sem álcool.
    Quando as velhinhas sem assunto no elevador repetiam que São Paulo era assim, as quatro estações do ano num único dia, achei que era modo de dizer. Não era. Lembrei dos tempos de moleque, de quando achava zaratustra um xingamento. Segui repetindo a palavra pra enganar o frio, uma merda o pé todo molhado - zaratustra zaratustra zaratustra zaratustra. De alguma portinhola ou janela escapava um som meio Blind Willie Johnson. Uma bebida quente com rum, uma balada gospel. Mas o pé todo molhado. Faltava pouco pra alcançar a estação Liberdade.
    ...

    posted by Dedê Ranieri @ 12:43 AM |


    segunda-feira, abril 12, 2010

    Desconfianças em série

    Você começa a desconfiar que sua amiga loira contribui para o repertório de anedotas sobre loira quando outra amiga, que está retirando as travessas da mesa de jantar, pergunta: aonde tem filme? e a primeira responde que faz muuuuito tempo que não usa filme, só câmera digital.

    A mesma amiga entra atrasada na sala de aula e o professor tripudia: Ana Paula (xi, contei) escolhe um número de 1 a 9. E ela entre constrangida e pega de surpresa responde rápido: DEZ!

    ...

    Você começa a desconfiar que namora um nerd quando rabisca um inocente bilhetinho eu gosto de você e ele escreve de volta:

    Eu: Sujeito (aliás, uma sujeita muito safada)
    Gosto: Verbo transitivo indireto (ou seja, uma garota cheia de indiretas, geralmente malintencionadas)
    Você: Na verdade eu, o objeto
    Resumindo: uma sujeita safada, cheia de indiretas, vendo a mim como um objeto.

    posted by Dedê Ranieri @ 12:31 AM |


    quinta-feira, abril 01, 2010

    ... Mas só muito mais tarde, como um estranho flash-back premonitório, no meio duma noite de possessões incompreensíveis, procurando sem achar uma peça de Charlie Parker pela casa repleta de feitiços ineficientes, recomporia passo a passo aquela véspera de São João em que tinha sido permitido tê-lo inteiramente entre um blues amargo e um poema de vanguarda. Ou um doce blues iluminado e um soneto antigo. De qualquer forma, poderia tê-lo amado muito. E amar muito, quando é permitido, deveria modificar uma vida – reconheceu, compenetrado. Como uma ideologia, como uma geografia: palmilhar cada vez mais fundo todos os milímetros de outro corpo, e no território conquistado hastear uma bandeira. ...

    Caio Fernando Abreu

    posted by Dedê Ranieri @ 12:25 AM |


    sexta-feira, março 19, 2010

    ...

    Eu não devia te dizer
    mas essa lua
    mas esse conhaque
    botam a gente comovido como o diabo.

    Drummond

    posted by Dedê Ranieri @ 1:33 AM |




    Mundo mundo vasto mundo
    se eu me chamasse Raimundo
    me atirava do precipício.

    Gabi ousadinha brincando com Drummond

    posted by Dedê Ranieri @ 1:29 AM |


    quarta-feira, fevereiro 03, 2010

    Thaís entra no bar. Bourbon Street. Arapanés. Deixa seu casaco pendurado na cadeira e à mostra suas costas esculturais. Miles Davis ao fundo.

    Matheus entra na Augusta a 120 por hora. Manobra um cavalo de pau em frente à casa noturna My Hause. Daniel, o amigo-passageiro, reclama que o vento desmanchou seu novo corte à Di Caprio. Matheus grita yeah yeah yeah. Matheus pensa de hoje não passa.

    Thaís acende um cigarro. Ajeita os cabelos no espelho do bar. Ao fundo Carlos Santana e Buddy Guy. Thaís espera.

    Hoje Matheus dirige com cuidado. Thaís parou de fumar. Vez ou outra vão juntos levar o Pedrinho na escola. Ao fundo, quase sempre, o coral de crianças cantando O sapo não lava o pé.

    posted by Dedê Ranieri @ 2:00 AM |


    segunda-feira, novembro 30, 2009

    eu já estava deitada quando pedi Maurício me leva pro Recife que quero ser amiga dele e Maurício respondeu você nem conhece ele é só uma entrevista na Globo News e ele vai fazer oitenta e oito anos não vai querer nada com você eu disse Maurício preciso ir urgente pro Recife quero ser amiga dele ele disse que não entende que vai fazer oitenta e oito e que todos os amigos morreram, menos um eu queria muito mesmo que você me levasse agora pro Recife, Maurício só não tenho certeza se ele está no Recife ou em Brasília que ele é professor na universidade Maurício me leva Maurício vou-me embora pra... Maurício responde que isso é sono que isso passa explico que não tive uma infância no Recife e isso me faz um pouco mal nem um avô tive lá nem uma rua que possa ter virado doutor fulano de tal que eu não era a moça nua que Manuel Bandeira viu no banho porque nessa época eu nem era nascida mas que podia ser de tão distraída só que nunca botei o pé no Recife Maurício corrige isso Maurício me explica por que fiquei tão presa nesse Recife da literatura do Bandeira e desse poeta Edson Nery da Fonseca que tá passando a essa hora na Globo News?

    posted by Dedê Ranieri @ 1:50 AM |


    terça-feira, novembro 24, 2009

    por Mauricinho Lodi
    (essa pessoa que assina o textículo abaixo diz que odeia escrever. só que durante o apagão, enquanto eu escrevia à luz de velas na cozinha, ficou narrando isso tudo. ditou o texto inteirinho e ainda disse: bota lá no blog, mas fala que é seu. 11/11/2009)

    São Paulo. Rio. Belo Horizonte. Brasília. Santa Rita do Passa Quatro. Barão de Cotegipe. Quincuncá. Passa e Fica. Paraguai... Tudo escuro! Estações de rádio fora do ar, pane no sistema de telefonia, caos no trânsito, interrupção no abastecimento de água, pânico nas UTIs, resgate no metrô... quem poderá nos salvar desse pandemônio? (A bruxa do 71 acusaria: É você, Satanás!). A previsão para o reestabelecimento da normalidade energética é de alguns dias, quem sabe semanas, segundo jornalistas mais pessimistas da rádio AM. Os economistas já reveem a projeção do PIB de 2010, de 4,5% à estagnação total. Mercados são saqueados. Motim nos presídios. Adolescentes à base de calmantes devido à falta de comunicação virtual. Arrastão nas grandes avenidas. Blogs desatualizados. Velhinhas tentando chegar em casa, no 27º andar. Namorados sem msn. Separações mais dolorosas que aquelas provocadas pelo Muro de Berlim. Lembrei de quando a vovó dizia pra olhar o lado bom das coisas, por mais que tudo parecesse mergulhado na mais completa escuridão (sem trocadilhos, por favor). Então pensei com meus botões, quando de novo neste século (ou nesta vida) vou ter a oportunidade de conhecer o céu (o verdadeiro céu) de São Paulo com a cidade totalmente às escuras? Algum engraçadinho se anteciparia dizendo "no governo, Lula, oras!". Mas, possíveis gracinhas à parte, continuei no pensamento. Quem nesta micro-região geográfica conhece um céu sem interferência das luzes da cidade? O que poderia eu encontrar? Alpha Centauri? Ursae Majoris? Nu capricorni? (signo da minha musa!). Estrelas cadentes? Cometas em curso? As crateras da lua? Vênus descamisada? São Jorge dando banho de mangueira no dragão? Continuei pensando e cheguei a uma conclusão: Pra que tanta especulação, se com apenas alguns passos eu poderia descobrir isso tudo da sacada do 6º andar? Como um verdadeiro Dom Quixote urbano, empunhei minha lanterna (pra não tropeçar na Juma) e rumei para a sacada. Decepção foi pouco, tudo nublado.

    ps.: Deu no meu rádio à pilha: Zona Leste começa a se acender (1h17).

    posted by Dedê Ranieri @ 1:23 AM |


    quarta-feira, novembro 18, 2009

    Sobre Anaïs Nin

    Acabei de ler Anaïs Nin, Uma espiã na casa do amor. Me lembrou aqueles livros da série Júlia, Sabrina, Bianca, que vendia em bancas de jornal. Minhas irmãs liam meio que às escondidas. Eu lia, um ou outro, totalmente às escondidas, quando acabavam os gibis. A personagem de Anaïs Nin se chamava Sabina. Pode ser que alguém se ofenda, mas achei uma porcaria! Os romances baratos da banca de jornal eram bem mais envolventes. Como já dizia o velho Bukowski, cada nova linha é um começo e não tem nada a ver com as linhas que a precederam. Alguns escritores tendem a escrever o que agradou seus leitores no passado. Daí estão fodidos. Não sei se esse é o caso de Anaïs Nin, já que nunca tinha lido um romance dela por inteiro. Mas o caso é que Uma espiã... foi um parto. Gostei mais de saber alguns detalhes da vida da escritora do que exatamente do livro. Alguma coisa sobre um romance com Henry Miller, que escreveu Trópico de Câncer e se consagrou. Eu nunca compraria um livro com esse título. Trópico de Câncer. Parece livro didático de geografia. Li em algum lugar que ela prefaciou o livro. E pensar que encontrei uma edição no sebo outro dia, e acabei fazendo uni-duni-tê com Lolita (Lolita saiu ganhando). Queria ler o prefácio. Eu gosto de saber desse tipo de romance. Vai ver peguei essa bronca toda porque na última frase do livro ela me fez recorrer ao dicionário. Pule o que vem a seguir, caso pretenda ler o romance. O livro termina com a seguinte frase: Existe um remédio na homeopatia, chamado pulsatila, para as pessoas que choram com a música. Pulsatila!... Não serei eu a explicar o que é pulsatila.



    Sobre Cortázar

    No dia em que adotei uni-duni-tê como método de escolha entre um livro e outro, uma certeza eu tinha. Ia levar Cortázar pra casa. O jogo da amarelinha. Cheguei até àquela banca-sebo seguindo pistas de um amigo. Lá tem uma edição d'O jogo da amarelinha, disse ele. Eu queria muito esse livro, sem saber exatamente o por quê. Assim como precisava muito ter comigo uma cópia de Blow-up - Depois daquele beijo (na época em que nem sabia que o Antonioni tinha se inspirado num conto do escritor argentino, Las babas del diablo). Quase sempre coloco o filme um pouco antes de dormir. Antes que algum maldoso comente, Blow-up não é um tipo Rivotril do mundo do cinema. Ele é uma obra de arte silenciosa e colorida. Se tivesse cinco minutos a mais de som, ficaria over. O negócio é que encontrei uma edição do Cortázar, de 68. Sessenta e oito, o famoso ano que não terminou. Época de ditadura no Brasil e Guerra do Vietnã. Assassinato de Robert Kennedy e Martin Luther King. Manifestos do movimento estudantil da Sorbonne à Maria Antônia. Um ano que vibrava revolução. No mundo. Eu encontrei uma edição do Jogo da amarelinha, de 68. Uma edição lançada no período revolucionário que só conheci através de outros livros. Um livro que tinha visto muito mais coisas do que eu, filho legítimo de Julio Cortázar. Como esse livro foi parar no sebo? Na contracapa uma assinatura legível em caneta (Bic?) azul: Fátima. Convenhamos, alguém que tem o capricho de assinar o próprio nome num livro, não tem a intenção de se desfazer dele. Será que foi problema de dinheiro? Imagino uma tia distante sussurrando em algum velório: "Pobre Fátima, acabou com tudo, vendeu até os livros da biblioteca do avô...". Teria sido uma mudança inesperada pra uma quitinete, por causa de um amor bandido? Pior. Fátima pode ter emprestado o livro pra alguém que esqueceu de devolver. Alguém que numa dessas limpezas que a gente faz pela vida, decidiu seu destino: Sebo tal da Marechal número tal. Alguém que nem se lembrava que era um livro emprestado de Fátima.



    Sobre paradigmas

    Hoje descobri que não gosto de tomar água de côco com canudinho. Muito melhor no copo. Eu que sempre tomei água de côco de canudinho. Foi aquele copo gigante do hard rock cafe, viciante. Sou capaz de tomar litros e litros de água de côco naquele copo. Hard Rock Cafe New York. A maior quebra de paradigma dos últimos tempos. Pelo visto não tenho quebrado muitos paradigmas nos últimos tempos.

    posted by Dedê Ranieri @ 2:20 AM |


    terça-feira, novembro 17, 2009

    "Um idiota que escreve bem sobre o nada". Foi assim que Maurício descreveu Bukowski quando li em voz alta as primeiras linhas do seu diário. Levei um choque. Foi mesmo uma coisa estranha ouvir alguém que eu gosto falar assim de outro alguém que eu gosto. Como se tivesse, sei lá, xingado alguém da minha família.

    Não que eu tenha algum tipo de preferência, relação ou carinho especial pelo Bukowski, mas sempre me diverti lendo seus textos malditos. E tem toda a tradição dos malditos, são os beatniks, porra! (acho que sou facilmente influenciada). Maurício não respeita nada. O Maurício está cagando para os mitos. E as avós ainda acham ele educado. Cínico, isso sim que ele é.

    A coisa toda começou no sábado mesmo. Fiquei esperando o Maurício me buscar no salão de cabelereiro. Coiffeur. É como preferem hoje em dia. Mas coiffeur remete a algo mais glamuroso, o que definitivamente não era o caso daquele salão, um calor dos diabos e o lugar não tinha ar-condicionado. Ou seja, não era coiffeur nem aqui nem na China.

    A questão é que eu estava pronta e não queria esperar o Maurício ali naquela antessala do inferno, de modo que aproveitei o tempo livre pra caminhar até um sebo no mesmo quarteirão. Tenho fixação por sebos, livrarias, blibliotecas. Aquela coisa toda me chama. Em outra vida devo ter sido um livro.

    Corri os olhos nas primeiras prateleiras, vi as Brumas de Avalon, faltava o primeiro volume. Cavalo de Tróia, todos os volumes. Metade da estante pra cima era Paulo Coelho. Os outros eram espírita. Zíbia Gasparetto disputando espaço com Paulo Coelho. O mundo anda tão místico.

    Fui para os fundos da loja e fiquei esperando um livro me chamar. Gosto daquela sensação de encontrar um livro que me chama. Eu entro
    e espero. Isso quase sempre acontece, se eu deixar acontece. Dessa vez aconteceu. Eram os malditos lado a lado. Jack Kerouac e Charles Bukowski. Fiquei arrepiada. Esses dias li em algum lugar um trecho do Kerouac e copiei pra minha amiga Isabel.

    (Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.)

    Isabel é do tipo pino redondo em buraco quadrado. Ela é um pino genial e que me enche de energia com as nossas conversas. A coisa toda é que copiei esse trecho pra Isabel faz umas duas semanas e de repente Kerouac me chama da prateleira, com Os vagabundos iluminados e Viajante solitário. Na dúvida, peguei os dois.

    Olhei de volta, o Bukowski estava lá. Pude ouvir os xingamentos. Não gosto de me sentir pressionada. Mas ele estava ali bem na minha frente e eu havia levado o Jack. O velho safado não podia ficar lá sozinho. Sem bebida ou baseadinho por perto. Levei.

    Os livros eram novos, da L&PM Pocket, de modo que pedi desconto, pois me sinto uma péssima negociante quando entro num sebo e pago como se estivesse na livraria Cultura. Sou tão péssima com isso que mesmo conseguindo 5%, acabei deixando lá, porque os meninos pediram caixinha de Natal. Quando Maurício chegou eu mostrei os livros e ele não deu muita bola para os ícones da geração beat, mais interessado em olhar a sacola de doces. Parece o pai dele. Pior é que diz que só come doces quando está comigo. Cínico.

    Comemos um polenguinho. Também tinha salgados na sacola de doces. Ele sempre acaba mais depressa e fica de olho no meu. Mas nunca aceita quando ofereço. O Maurício parece a minha mãe, sempre quer me dar o melhor pedaço, sempre me dá o recheio. Depois dele, nunca mais comi borda de pizza. Só recheada. Definitivamente, ele me deixa mal acostumada e eu acho isso muito bom. Estou sempre pensando numa forma de recompensar o Maurício pelas bordas que ele come no meu lugar.

    Chegamos em São Roque uma da manhã. Outro dia no jantar, o Igor contou que a funcionária do Cartório de Registro de Imóveis escreveu São Rock! na escritura, o que foi motivo de risadas. Mas no fim eu achei bem mais bonito assim, São Rock. Maurício queria continuar na cerveja e eu inaugurar uma garrafa de prosecco, em São Rock! Pegamos as duas.

    Maurício sugeriu que bebêssemos na piscina e eu até estranhei porque ele odeia insetos e aquela era uma hora propícia. Pediu ainda que eu lesse alguma coisa pra ele. Ele sempre diz que tem preguiça dos livros. Peguei Os vagabundos iluminados, feliz de doer, mas ele preferiu O Capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio, do velho. Me explicou que preferia esse, pois se tratava de trechos do diário que Bukowski escreveu um pouco antes de morrer. O Maurício sempre me surpreende. Se ele não estava prestando atenção quando falei dos livros e se tem preguiça de ler, como podia saber de tudo isso? Cínico!

    Abriu uma heineken tamanho família e ficou tentando afastar os insetos enquanto eu começava a leitura. "Um idiota que escreve bem sobre o nada". Foi assim que Maurício definiu Bukowski quando li em voz alta as primeiras linhas do seu diário. O Maurício não respeita nada. O Maurício está cagando para os mitos. E as avós ainda acham ele educado.

    posted by Dedê Ranieri @ 3:22 PM |


    segunda-feira, outubro 26, 2009

    Genial Clarice. Amada Isabel.

    (Por essas e outras que o nosso chopp nunca tem hora pra acabar)



    "Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso – nunca se sabe qual o defeito que sustenta o nosso edifício inteiro... há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito.


    Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo o interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões – cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim.

    E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeito mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que imagina o que é ruim em você – não copie uma pessoa ideal, copie você mesma – é esse seu único meio de viver.

    Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma.

    Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma.”


    C. Lispector

    posted by Dedê Ranieri @ 11:13 PM |


    sábado, setembro 19, 2009

    Não consigo dizer não ao palhaço

    O palhaço me aborda num semáforo.
    Vem saltitante e elogioso, com um sorrisão na cara: "ÔÔÔ moça bonita, por cinquenta mil você leva um pirulito!!!". A piada nem tem graça, mas ele é o palhaço e não tem como não rir do palhaço. Em algum lugar do seu hipocampo está registrado que você tem que rir do palhaço. Até quando você sente medo dele. Tem gente que tem medo de palhaço, sabia?, mas ri assim mesmo. Eu me sentiria uma pessoa má, daquelas muito más mesmo, se não risse do palhaço. Imagina não ceder praquele riso largo. Desconfio das pessoas que não devolvem o sorriso cordial. Desconfio das pessoas que não riem do palhaço. Vai ver eu tenho medo de parecer má não rindo do palhaço. Vai ver eu tenho medo que o palhaço me leve a mal. Talvez eu me enquadre na categoria de pessoas que têm medo do palhaço (inspiração aos Clowns de Fellini, caso tivesse nascido naquele tempo). Eu pego a primeira moeda que vejo pela frente e entrego ao palhaço. Ele se inclina num agradecimento todo rebuscado, depois de me oferecer um pirulito em espiral colorido. E eu sigo aliviada por ter me livrado dele. Eu digo não ao juiz sem hesitar. Eu digo não ao promotor sem gaguejar. Mas não consigo dizer não ao palhaço! Sexta passada fui abordada de novo. Ele veio saltitante, elogioso. Sem vontade de comprar o pirulito combinei comigo mesma que diria não. Mas é aquela história. Com um sorriso meio amarelo balancei a cabeça em negativa. Um risinho escapando no canto da boca. Uma negativa sorridente. Porque eu tenho bronca daquelas pessoas que recusam as coisas no semáforo com grosseria. Ficam tão superiores dentro do carro. Mas isso não tem nada a ver com o palhaço. O caso é que eu neguei de leve e ele insistiu, porque o palhaço sabe quando você não está sendo enfática. Ele tinha certeza. Olhei de lado e vi uma moeda de 10 centavos. Eu disse: ihhhh só tenho dez centavos (sim, pessoas, às vezes dirijo com o vidro meio aberto, deixando expostas moedas de dez centavos). O palhaço cantarolou: "contribua com quanto tiver, madame!". Eu dei os dez centavos e fiquei esperando o pirulito. Ele disse: "muito obrigado, madame" e passou para o próximo carro. Espero que depois dessa eu consiga dizer não ao palhaço.

    posted by Dedê Ranieri @ 3:20 AM |


    terça-feira, setembro 01, 2009

    ...

    A mulher disse não serve meu bem, não fecha o zíper. De costas, não reparei na expressão refletida no espelho, ocupada em encolher ainda mais a barriga. Ai moça, amei esse verdinho, a costureira deve dar um jeito, elas sempre dão um jeitinho. Prove os outros, ela insistiu entre seca e apressada, esse não tem como. É o tecido. Se mexer fica marcado, cetim. Ainda por cima é primeiro aluguel, experimenta outro. Não quero – acho que fiz bico. Já não tenho mais idade para bicos, mas quando olhei no espelho ele já havia se instalado, que remédio? Não quero provar os outros, quando eu gosto de um já viu, não tem Cristo que convença, tentei desfazer a má impressão (talvez) causada pelo bico involuntário. Pela primeira vez fixei os olhos na mulher. Devia ter uns cinquenta anos, pele morena sem viço, cabelos idem, nas unhas o esmalte descascando, roliça e mais baixa do que eu (o que não era bom sinal). O olhar sem expectativas, oblíquo. Nunca fui ajudada por alguém com um olhar assim. Pior, tinha começado tudo errado. A mulher notou desde o primeiro instante que eu queria muito, muito mesmo, o verdinho, e eu ali, quase implorandinho, só ela poderia me salvar, mas naquele momento eu que me tornara sua redenção. Não dá, ela repetia tentando disfarçar a satisfação em negar o meu maior e mais atual desejo. Essa maldita mania de falar tudo no diminutivo e ainda fazer biquinho bico com mulher, contando tudo tudinho logo de cara. Já era tarde, mas sempre há tempo aos obstinados. O proprietário, ele está? A mulher recuou. Sim. Vou conversar com ele então, de repente pode ajudar, posso propor a compra em vez de aluguel, daí pode dar uma mexidinha – claro, diminutivos e biquinhos sempre funcionam melhor com eles. A mulher fazia cara de sonsa, mas aos cinquenta, até (ou principalmente) as sonsas conhecem certos truques manjadíssimos, razão pela qual enquanto eu me fechava no provador para tirar o objeto verde-oliva do meu desejo, ela se adiantava ao proprietário sabe-se-lá sob que discurso e voltava com a notícia. É, não dá mesmo. Mas eu queria falar com ele (euzinha) sobre comprar o vestido. Também não dá. Mas a senhora falou? Sim, pra sábado não dá, tem os ajustes... Então vou falar direto com a costureira, se eu pedir, chorar e disser que até fiquei doente pelo verdinho, ela me encaixa até sábado, a senhora não acha? Eu já sabia a resposta, Não dá estava costurado na língua da mulher. Ela variou a negativa. Impossível, tem o corpo de baile pra sexta! Ela ainda não havia me vencido. A sala da costureira? Em outra loja. Nunca fui ajudada por alguém com um olhar assim. Okay você levou!, quase gritei para a mulher oblíqua, mas as regras sociais que mamãe ensinou fez com que eu apenas agradecesse com um sorriso esquisito e saísse logo dali. O verdinho tão perto e inacessível, esses amores são fatais, conheci muitos casos que agora não vem ao caso. Na saída, o proprietário dedicado me abordou sorridente. E aí, deu certo? Eu que já saia vencida, despida de todo o destrambelhamento inicial, enxerguei mais uma possibilidade e nela me agarrei com força. Retribuiria o sorriso do velho com quantos diminutivos lhe coubessem. Olha, o senhor tem cada vestido lindo aqui, eu amei o verdinho, queria tanto... Mas por pouco pouquinho o zíper não fechou, o senhor dá uma ajudazinha?... É que é pra sábado, sabe? Touché touchézinho!... Doraaaaa, a moça aqui gostou do verdinho, você dá um jeitinho pra sábado? Então ela se chamava Dora. Dora, a mulher que com o polegar nervoso raspava um resto de esmalte no indicador da outra mão. Dora, era ela a própria costureira, que mentia que a costureira ficava na outra loja. O corpo de Dora recuava, mas a boca resignada dizia sim patrão, e num sincronismo inesperado – Dora, a cara de sonsa - junto com a boca lançou-me pela primeira vez um olhar direto, em que pude ler cada letra até então disfarçada no oblíquo: sua vadiazinha dos diminutivos! Tinha até ponto de exclamação na frase estampada nos olhos de Dora.

    posted by Dedê Ranieri @ 5:51 PM |


    quarta-feira, maio 27, 2009

    A primeira vez que saí com você chovia aos cântaros. Eu quase não estava atrasada, só um pouquinho porque chovia muito e eu tinha medo de derrapar na pista e amassar o vestido e parecer afobada na hora da chegada. Quando você ligou eu me expliquei tentando não falar rápido demais, palavra por palavra, que era a chuva, não era desculpa, o mundo estava caindo naquele dia, você devia olhar pela janela, meu bem, olha a chuva, olha a chuva pela janela. Eu particularmente acho um charme marcar encontro em dia de chuva, acho que foi um filme, um filme nacional. Amores possíveis, já viu? Carolina Ferraz e Murilo Benício marcam um encontro no cinema num dia de muita, muita chuva, e ela não vai, e ele espera, e três histórias se desenrolam a partir daí, com três possibilidades do que poderia ter sido, do que não foi. É uma comediazinha romântica que me deixou de quatro e apaixonada por encontros em dias de chuva e pelas possibilidades, apesar de na prática odiar qualquer programa que não seja dentro de casa em dias de chuva, a chapinha meu bem, o cabelo arrepia. Mas o nosso, o nosso encontro não tinha qualquer possibilidade de dar errado no meio daquele temporal, nem com o cabelo arrepiado, vestido amassado, derrapando na pista. Alguns minutinhos de atraso, já tô chegando. E você levou um choque, pediu pra eu me atrasar ainda mais, que contava com o costumeiro atraso, ia entrar no banho, e eu inventei uma passadinha na casa da minha amiga sua vizinha, e esperei no posto de gasolina daquela avenida atrás do seu apartamento retocando batom, lendo Vejinha São Paulo e escolhendo uma nova opção para local do encontro, topo descoberto do Unique já era, como chovia, chovia muito em São Paulo, e eu fui te buscar no meio do pré-dilúvio com meu carro falhando a marcha, e acho que você tomava banho olhando a chuva pela janela com aqueles olhos pequenos que eu ainda não decifrava. Eu lia e retocava o batom e qualquer vestígio de olheira, porque os dias de chuva são péssimos para a pele e olheiras então nem se fale. Chovia tanto em São Paulo naquele dia e o tempo não passava, eu estava adiantada, adiantada pela primeira vez na vida, esperando no posto o telefone tocar, na cabeça Grace Jones cantando La vie en rose, na mão a Vejinha São Paulo, gloss pra retocar segundos antes da sua chegada. Daí você entrou no carro de jeans e camiseta vermelha e quase pisou na garrafa de saquê e queria saber porquê uma garrafa de saquê no chão do carro, sorrindo com o olho pequeno. Eu de Grace Jones na cabeça, a marcha falhando. Como chovia em São Paulo naquele dia, meu bem.

    posted by Dedê Ranieri @ 12:27 AM |


    terça-feira, maio 19, 2009

    Oficina de Escrita de Contos Infanto-Juvenis
    Coordenador: Manuel Filho

















    O Gordo da oitava

    Idade, dezesseis.

    Tem olhos profundos e claros, cabelos castanhos médios, puxando para o cinza pardacento e uma falha na sobrancelha esquerda, diria um observador mais atento.

    O nariz não é grande nem pequeno, nem bonito nem feio, normal.

    As maças do rosto são rosadas, com um aspecto saudável e vibrante, e sardas quase imperceptíveis.

    Tem a boca pequena, pequena até demais para o seu tamanho, num formato de morango simetricamente perfeito.

    Não gosta que reparem, menos ainda que comentem, mas acha que tem o umbigo saltado demais em comparação ao das outras pessoas.

    Tem 1,81 m de altura, aparentando menos, culpa da época em que se encolhia para não parecer nem mais gordo, nem mais alto.

    É carioca da Gávea e nunca explicou porque torce para o XV de Jaú, ou Esporte Clube XV de Novembro, como prefere chamar.

    Mora com o pai, a mãe, a irmã mais nova e a avó num apartamento de três quartos, com vista para um parque cuja grama nunca está suficientemente baixa.

    A diarista vem duas vezes na semana e nas duas costuma debater com o porteiro que diarista é empregada sim! e tem direito a todas as verbas previstas na CLT, assim, bem na cara do gordo, na certa para que conte à sua mãe para tomada de providências, como registro em carteira.

    Na sacada tem uma calopsita que já ganhou dois concursos nacionais.

    Já teve vários apelidos na escola, mas foi na oitava série que um pegou mesmo, de simplesmente Gordo virou O Gordo da Oitava.

    Quando um amigo arruma confusão, é só dizer vou chamar o Gordo, que a molecada se espalha que nem formiga em formigueiro pisado sem querer.

    Só não entende uma coisa o Gordo da Oitava: nunca brigou na escola, nem na rua, nem em lugar algum, portanto não sabe de onde veio essa fama de brigador, mas não acha ruim não.

    Toda quarta, que ninguém ouça, depois da novela das oito, prepara um escalda-pés para a avó.

    Odeia beijinho de coco e maître que pensa que é francês. Pensando bem, odeia os que são franceses também.

    Odeia segundas-feiras e sua banda favorita é Boomtown Rats, coincidência ou não, prefere I don't like mondays para ouvir no volume máximo (já gostou da banda RPM, mas hoje se arrepende).

    A mania de tanto reclamar da segunda lhe rendeu um presente inusitado no último aniversário: um livro intitulado O Homem que odiava a segunda-feira, de Ignácio de Loyola Brandão. O gordo achou engraçado (o título, porque até hoje não leu o livro) e pensou que um dia queria conhecer esse cara.

    Gosta da junção das palavras “aurora boreal” e já até pensou em escrever uma história com esse nome na aula de redação, mas ficou vermelho só de imaginar a leitura em voz alta na frente da classe, e o que é pior, da Maria Fernanda.

    Fato relevante: uma vez a tia o convidou para assistir a um filme, ele não gostou muito da idéia, “filme de mulher”, debochou em pensamento, “deve ser Titanic”, mas a tia havia recém-separado do marido e ele ficou com pena de dizer não.

    Era a história de um garotinho chamado Totó que ficara fascinado pelo cinema da pequena cidade onde morava, zzzzzzzz.... e desenvolveu uma bonita amizade com o velho projecionista local, zzzzzzzzz.... ia dormir, certeza.

    Acontece que aconteceu o que se imaginava inacontecível: o menino não despregou o olho da tela nem por um minuto, e umas cinco ou seis vezes segurou com força um gosto estranho que descia rasgando pela garganta, e como ótimo e improvisado disfarce tirou sarro da cara vermelha de sua tia, que enxugava os olhos com os últimos kleenex da caixinha.

    Ah, o filme? chamava Cinema Paradiso, assistiu muitas outras vezes.

    O fato é relevante porque quando o pai ordenou que arrumasse um emprego, logo pensou que queria trabalhar no cinema, era aquilo que queria, estava determinado assim como Totó, mas como ainda era muito novo para ser diretor ou algo assim, o mais próximo disso que conseguiu foi uma vaga de atendente na Blockbuster na esquina do prédio, e durante seis meses se apaixonou platonicamente por todas as meninas que levavam para casa os seus filmes prediletos [anos mais tarde, o gordo da oitava se tornaria um conhecido e ácido crítico de cinema, que julgava repulsivo o ato de comer pipoca num ambiente tão sagrado].

    Curiosidades: durante a infância foi viciado em mini-chicletes Adams, aqueles que sumiram do mapa depois dos anos oitenta.

    Uma vez, ao acompanhar os pais em uma entrevista no consulado americano, para obtenção de vistos para a primeira viagem à Disney, colou uma massaroca de chiclete debaixo daquela mesa de madeira escura, pernas bem torneadas e tampo de mármore, e a partir de então, durante muitos anos se divertiu colando bolas de chiclete debaixo de mesas chiques como aquela.

    Nunca se conformou que a Vovó Mafalda era na verdade um Vovô.

    No dia em que completou um ano de carteira de habilitação, quase atropelou Daniela Cicarelli numa esquina do Baixo Leblon.

    Escreveu um ensaio chamado A Aurora Boreal, numa velha Remington abandonada na área de serviço, que foi publicado num caderno especializado naquilo em que ele se tornou especialista (não me pergunte agora, que o nome é comprido).

    O apelido o seguiu pela vida afora, mas o gordo da oitava já não era mais gordo há muito tempo, aliás, desde a quinta série não era gordo.
    ...

    posted by Dedê Ranieri @ 12:47 AM |


    terça-feira, novembro 18, 2008

    Oficina Manuel Filho
    A verdadeira versão dos 3 porquinhos, sem cortes (apenas queimaduras)

    Em toda minha experiência de vida, tenho como poucas as verdades verdadeiramente definitivas e absolutas. Uma delas é a estatística do SEBRAE. Ela assegura que 50% dos pequenos e médios novos empreendimentos não completam dois anos de vida, fecham as portas antes. Não é pra menos! Veja você a minha situação. Mal abri meu novo negócio, cheio de pompa e circunstância, com coquetel de inauguração e tudo, chegaram os primeiros clientes. Fiquei numa euforia só, faria minha primeira venda, a primeira nota fiscal emitida pela Lobão, Tudo Para Sua Construção!. Enchi um caminhão e lá fui fazer a entrega: palha, madeira, tijolo, 73 pregos e muita transpiração. De tão eufórico que estava, esqueci de um detalhe que não pode nunca ser esquecido por um comerciante bom: consultar o SPC e o SERASA. Mas eu nem cadastrado na Associação Comercial era, quis fazer dinheiro logo e no fim fiquei na mão. Os três porcos que compraram na Lobão não tinham a menor condição (financeira). Deram cheques pré-datados que bateram e voltaram, sem fundos, o que chamam por aí de cheque avião, voador, sei lá. Só sei que quando, furioso, fui tomar satisfação, os três, que por sinal eram irmãos, me armaram uma arapuca tal que acabei dentro de um caldeirão. E o que é pior, fervendo! Não bastasse os calhordas me deixarem nessa condição, todo queimado e devendo horrores do empréstimo pro BNDES, não pago INSS, e ainda tenho que aguentar certos boatos que circulam por aí, de que eu é que sou o MAU da história.

    posted by Dedê Ranieri @ 4:15 PM |





    Fase infanto-juvenil.
    Acabou-se o que era doce.
    A oficina de contos infanto-juvenis conduzida pelo escritor são-bernardense Manuel Filho, nos últimos três meses, foi tão deliciosa que terminou com gostinho de quero mais. Nem sei o que vou fazer na próxima quarta-feira à noite. Acho que vou me vestir de preto e guardar luto. Ou não. De preto eu ia sempre e me divertia horrores, definitivamente não simbolizaria nem tristeza, nem saudade. Acho que vou mesmo é ficar curtindo a lembrança das intrépidas figuras que conheci por lá. Grupo mais heterogêneo impossível, numa sintonia total. Alguns deles, tenho quase certeza, foram contratados para animar os encontros, só pode! Veja o caso da irmã Dulce: uma freira de vinte e poucos anos, que estava mais para noviça rebelde que arrepiava nos comentários críticos dos textos da moçada, do que para o estereótipo da doce irmã Dulce da Bahia. E aquele outro que na primeira aula, no momento das tradicionais apresentações, bradou com um puxado sotaque nordestino: "Meu nome é fulano e sou marxista!". Tive vontade de seguir a linha de apresentação dele: "Meu nome é Denise e detesto cheiro de pinho-sol!" mas já tinha passado a minha vez. Ele nunca mais apareceu no curso, mas me lembro até hoje, por isso de agora em diante, quando eu quiser ter uma presença, digamos assim, mais marcante, vou me apresentar como Denise-Marxista, ou De-Extrema-Direita, ou Devoradora-de-Quiches-de-Alho-Poró, sei lá!
    Só sei que no meio do curso entrou gente,
    saiu gente,
    gente achou que não sabia escrever,
    gente descobriu que sabia escrever,
    gente quase chorou,
    gente gargalhou muito,
    gente teve vontade de bater palmas,
    gente sofreu para tirar umas (boas) idéias do sótão,
    gente teve que ir embora mais cedo,
    gente encontrou livro que marcou a infância nas prateleiras,
    gente descobriu que não precisava ser assim tão exigente,
    gente lembrou que a série vagalume marcou a vida de muita gente,
    gente descobriu que tinha mais gente compartilhando o amor pela leitura,
    e que gente assim, invariavelmente, é boa gente,
    gente que ganhou o prêmio Jabuti
    (opa, esse foi pra diretoria, e toda gente vibrou!),
    gente que não conseguiu chegar em dia de chuva,
    gente com tatuagem no corpo e umas idéias bem legais tatuadas na cabeça,
    gente que era mãe e filho mas guardava segredo,
    gente que era mãe e filha e contou desde o começo
    (só não contou que a mãe era fada e conversava com insetos e plantas, isso a gente descobriu depois),
    gente que era engenheiro e foi lá para não perder as idéias abstratas no fundo da gaveta,
    gente que foi professora,
    gente que ainda é,
    gente que escreve e esconde os escritos e só confessa no final porque tem gente que pergunta
    (gente indiscreta)...
    toda essa gente eu espero logo encontrar por aí!

    posted by Dedê Ranieri @ 2:46 AM |


    terça-feira, outubro 28, 2008

    Eu gosto assim, que graça tem aquelas magrelas? - ele disse, maliciosamente, no meio de um amasso no sofá. Um soco no olho seria pouco, pensou ela, enquanto tentava elaborar a colocação, ofendida. Uma joelhada lá. Não!, nada anularia o efeito daquela frase. Ele jurava que era elogio, paixão pura. Ela tinha certeza de que era uma gracinha para desestabilizar, devia ser um toque para manerar no queijo e vinho, afinal, que mulher aceitaria como elogio ser chamada de gordinha? Ele só conseguiu se explicar graças ao argumento de um outro da mesma espécie: Acha que eu estou mentindo? Clica no link do cara!... Bom, ela clicou no link do cara, e ele falava tudo o que ela queria ouvir. Inclusive mandou dizer: Tks, cara! Que graça tem mesmo aquelas magrelas?

    posted by Dedê Ranieri @ 6:22 PM |


    quinta-feira, outubro 16, 2008

    Em tudo a outra copiava.
    Num dia era o corte de cabelo que pedia igual. No outro a roupa, os sapatos. Até lentes de contato com cor juntou dinheiro para comprar, queria mesmo era ficar a cara da outra, e isso incluía os olhos. Sonhava com o dia em que alguém comentaria: são irmãs? siamesas?univitelinas decerto! A outra fingia não perceber, para não constranger aquela que queria ser a outra. No começo achou até graça. Uma fã. Era isso. Tinha uma fã. E quanto mais copiada, mais vaidosa ficava. Um dia as duas estavam na lanchonete quando a outra pediu um suco, que veio com um mosquitinho boiando. Diante do comentário "tem um mosquito boiando no meu suco", a que queria ser a outra espichou a cabeça e o dedo para o garçom, e com naturalidade registrou seu pedido: "pra mim igual, e não esqueça da mosquinha ...". A outra saiu de fininho e nunca mais atendeu telefonema, email, postal, pombo-correio. Quer dizer, das poucas tentativas que a que pensava ser a outra fez. Afinal, dizem por aí à boca pequena, que a que pensava ser a outra, agora tem certeza de que é, por isso não sentiu falta nenhuma. Da outra.

    posted by Dedê Ranieri @ 12:08 AM |


    terça-feira, outubro 07, 2008

    Diálogo Macabéico

    - Delícia de parmesão. Essas lasquinhas...

    - Meu tio Woerte prefere em cubinhos.

    posted by Dedê Ranieri @ 2:45 AM |


    quinta-feira, outubro 02, 2008

    A nostálgica

    Sou uma verdadeira afronta à arte milenar do feng-shui. Adoro guardar um bagulhinho. Mesmo sabendo que nunca vou usá-lo, ou no caso de precisar, que não vou encontrá-lo.

    Mas a questão é o apego.

    Ele até me presenteou com um livro do movimento Hare Krishna, para ver se me livra desse mal. Até agora o máximo que consegui, em termos de resultado, foi me desfazer, digamos, de dois ou três encartes de jornal que deram no semáforo.

    Ce la vie.

    posted by Dedê Ranieri @ 1:02 AM |


    terça-feira, setembro 23, 2008

    (( Numa quinta à noite, sem mais nem porquês, eles [1] me surpreenderam com a notícia: Você é uma mundana! Assim mesmo, à queima-roupa. Não que eu já não desconfiasse. Ao contrário. Sempre disseram que eu tinha alguma coisa assim, digamos, diferente, até Dona Olga, minha mãe. Mas saber que aquilo não era doença grave ou sem cura, me deixou bem aliviada. Existia um nome. E existiam outros. Muitos outros. Espalhados aí pelo mundo. E alguém teve a brilhante idéia de reunir essa gente. E entre eles eu passei a me sentir em casa. É aqui que eles se encontram: MundoMundano, "o mais sonhado e distinto portal dos últimos tempos"! ))

    [1] Fábio Iwai e Camila Briganti, Os caras!

    Das desgraças que Dercy não viveu ou Sobre bombons de licor, listerine e tabaco (publicado na MundoMundano, 18/09/2008)

    Definitivamente estão empenhados em acabar com o discreto charme da boemia, a confraternização entre amigos nos botecos (pés-sujos ou não), e até mesmo com aquele clima que favorece o início de novos relacionamentos amorosos. É o fim dos tempos! E isso não é uma epifania.

    Aos fatos.

    Primeiro veio a implacável Lei Seca, acompanhada de uma relevante discussão sobre bombons de licor e Listerine. Agora o Mr. Serra Montgomery Burns acaba de canetar o projeto de lei que proíbe fumar em ambientes coletivos, públicos ou privados. Sem chorumelas, vem multa pesada para aqueles que descumprirem a lei, caso entre em vigor.

    Os politicamente corretos que me desculpem, mas reconhecer que esse mundo está virando uma chatice é fundamental. E olha que eu nem fumo!

    Dentro da minha cabecinha loira, algumas poucas sinapses me permitem visualizar uma equação bem simples: menos bebida e cigarro, mais receitinhas tarja preta. Porque sentar num bar com os amigos, ou com aquela sua companhia predileta cheia de intenções, e não poder beber ou fumar, ou os dois, só pode deixar o cabra deprimido.

    Ok, no que se refere à bebida, ninguém é proibido de beber nos bares (alguém levantará a lebre), mas sim de dirigir bêbado - leia-se, com o teor alcoólico acima do permitido, como se algum teor permitido fosse -, mas cá entre nós, que graça tem um bebendo e o outro olhando? Porque alguém tem que dirigir de volta para casa e esse papo de táxi não rola. Imagine pegar um táxi todo final de semana: ABC – Vila Madá – ABC? Mais fácil guardar o dinheiro e comprar o próprio táxi!

    Na verdade, sem querer parecer egoísta, mas inevitavelmente sendo, no início não fiquei tão incomodada com a restrição no que toca às bebidas, afinal, do meu extenso grupo de amigos chegados na birita, tem o bom e velho mundano Gravata que não bebia (sim, no pretérito), e a Daniela que só pede um martinizinho por noite, para comer a azeitona.

    Não sei o que aconteceu, o mundano Gravata passou a beber assim, de repente – na verdade, ele sempre foi do contra e com sua excelente percepção extra-sensorial deve ter sacado que era melhor se safar do que estaria por vir –, e a Daniela, quando convocada para a honrosa tarefa de assumir a direção do veículo e de nossas vidas, revelou que apesar de habilitada, tem pavor de dirigir e só de chegar perto de um volante fecha os olhos, síndrome do pânico, sei lá! Ou seja, estaca zero.

    Hoje só me resta o romantismo das lembranças de uma belle époque não tão distante. Lembro-me do tempo em que encontrava os mundanos Iwai e Briganti num pé-sujo, e depois de contribuir responsavelmente para estimular o comércio de bebidas local, bem como a geração de empregos com direito a muito adicional noturno, rumávamos para uma padaria qualquer, de preferência a da esquina, e tomávamos garrafas e garrafas de Norteñas até o sol raiar ou o dono da padaria explicar que a nossa bebedeira era incompatível com as senhoras de família chegando para buscar o pão das 7h.

    Do tempo em que sobre nossas cabeças pairavam nuvens de fumaça de cigarro e à nossa frente fileiras de garrafas batiam continência, disciplinadas. Ali não éramos nós, éramos Noel Rosa, Vinícius, Tom Jobim e qualquer outro drunk da turma da bossa.

    Sobre nossas cabeças, disputando lugar com a fumaça cinzenta, idéias originais e brilhantes, que só tem espaço para nascer numa mesa de bar, alimentada pelo consumo de álcool, pelo fumo, e claro, muita leitura dos beatniks.

    posted by Dedê Ranieri @ 2:24 AM |


    sexta-feira, agosto 29, 2008

    Um analfabeto muito esperto

    Ana Luísa tem sete anos. Gian Lucca, quatro. Ana já sabe ler. Gian ainda é analfabeto. A menina, que está irritada com o irmão mais novo, não vacila, saca um papel, uma caneta, e maliciosamente rabisca um bilhete para ele: Você é um chato (com exclamação e tudo!). E assina, Ana Luísa. O menino recebe o primeiro bilhete de sua vida com ar desconfiado, pede à avó que o leia. A avó comunica à dupla de irmãos que vai ler o conteúdo na íntegra, duela a quien duela, e assim o faz. Gian Lucca fica visivelmente transtornado, não se sabe se pelas poucas palavras da irmã, ou pela humilhação de não saber ler ou responder de igual. Mas o menino não se deixa abater. Após alguns segundos sentado no sofá, na mais autêntica posição O Pensador de Rodin, arranca um papel sulfite da impressora do avô, separa uns lápis de cores, e rabisca sem parar um desenho com muita força na mão, algo assim, digamos, abstrato. Acrescenta umas letras soltas e desajeitadas pela folha, não formam palavra alguma em qualquer dos idiomas no mundo catalogados. Pede à avó que escreva seu nome no rodapé, e com um sorriso plácido de satisfação entrega a resposta a uma intrigada Ana Luísa.

    posted by Dedê Ranieri @ 12:38 AM |


    segunda-feira, agosto 11, 2008

    Eu nunca fui santa, por Odamar Versolatto.
    A tela é linda e tudo por é mais lindo ainda.

    posted by Dedê Ranieri @ 4:21 PM |


    quinta-feira, julho 31, 2008

    A desbocada e o Lord

    - Amorê, a boca da Dercy não parece uma xoxota depois do parto?
    - Não sei, linda, nunca vi uma xoxota depois do parto...
    - O quê, nunca viu aquelas filmagens de parto?
    - Já! É que geralmente depois do parto eles seguem filmando a criança...

    posted by Dedê Ranieri @ 3:45 AM |


    terça-feira, julho 15, 2008

    posted by Dedê Ranieri @ 6:14 PM |




    Ele tem cara de bom moço, ar aristocrático e um sorriso mais indecifrável que o da Mona Lisa. Ele enlouquece as avós, mães e tias com seu estilo Maurício Loureiro Gama, o apresentador de telejornal mais galã que a tevê brasileira já viu. Ele só usa camisetas amarelas (quando veste outras cores é porque as amarelas estão pra lavar). Ele chegou pra desbancar Olivier Anquier, Jun Sakamoto e aquele outro japonês famoso que inventou o Pão com Bolinho. Ele nunca me levou ao cinema, mas me leva pra almoçar com o Padre Quevedo e jogar boomerang (não com o padre). Ele dá dicas preciosas e que podem salvar a minha vida, não sei como pude (sobre)viver até hoje sem saber como me livrar de um ataque de tubarão - "basta dar um soco no nariz dele" (ele diria no nariz, não nas guelras! como se eu soubesse o que são guelras). Ele me ensina sobre desvio padrão às quatro da manhã, com muito vinho na cabeça e sem perder a linha de raciocínio. Ele sabe o que é quiromancia, empirismo e páprica. Ele sabe cantar duas músicas do Roberto. Ele sabe mais da vida cotidiana dos Simpsons -e toda Springfield- que o Matt Groening. Ele dirige de um jeito esquisito, mas eu nunca comentei nada. Ele é o meu domingão de sol. Segunda, terça, quarta, quinta, sexta e sábado também.

    posted by Dedê Ranieri @ 1:56 AM |


    sexta-feira, julho 11, 2008

    (Post idoso)

    Você assiste ao telejornal. O âncora chama a matéria, entra o repórter e você pensa "Nossa, que novinho!". Podia muito bem ser aquele seu priminho, recém formado jornalista. Deve ter entrado cedo na faculdade, você continua pensando, até entrar a matéria e o repórter novinho entrevistar algum especialista novinho. Agora virou idéia fixa, você não consegue parar de pensar que tem novinho pra todo lado, não é possível um menino daquele ser PhD em negócios e finanças internacionais, professor de MBA do Ibmec, o caralho a quatro. Não. Definivamente erraram na legenda. Os caras vivem errando na legenda. Mas a matéria acaba e você continua com aquela sensação de que tem algo errado acontecendo com o mundo.

    ...

    Depois da sensação de que algo errado acontece com o mundo, vem a certeza. Passemos aos fatos. A sua cunhadinha predileta (no caso, a minha) completou vinte anos no último dia nove, e se minha HP não falha (nunca falha), ela nasceu em 1988, junto com a Constituição Federal e uns meses depois da comemoração do meu aniversário de onze. Pior. Enquanto eu integrava o movimento dos caras-pintadas (1992), e cometia a maior transgressão da minha vida (caminhar a pé da Metodista até o Paço Municipal de S.B.C), ela estava na janela do apartamento vendo o movimento passar, detalhe: tomando mamadeira no colo da mãe dela! Kid Salmonella, caso eu consiga superar esse desaforo, estarei presente na sua comemoração amanhã, happy birthday again!

    posted by Dedê Ranieri @ 4:03 PM |